A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revisou para 3% a sua previsão de crescimento econômico do setor para 2024, nesta segunda-feira (29), durante coletiva de imprensa online sobre o desempenho econômico do setor da construção no 2º Trimestre de 2024 e perspectivas para o ano, incluindo dados sobre a geração de emprego, custo da construção e principais problemas. No fim de março, a CBIC já havia elevado de 1,3% para 2,3% seu prognóstico para alta da Construção para o período. O índice fica acima das previsões de 2,15% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para este ano.
Entre as razões para a nova análise estão:
“Quanto maior for o mercado nacional, melhoram as expectativas para novas aquisições de casas próprias, porque o trabalhador precisa de estabilidade para fazer o seu financiamento imobiliário. Da mesma forma, a boa perspectiva econômica e a previsibilidade das condições de investimento permitem ao empresário planejar e assumir riscos”, definiu o presidente da CBIC, Renato Correia.
Também participaram da entrevista a economista da entidade, Ieda Vasconcelos, e Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O levantamento integra o projeto ‘Inteligência Setorial Estratégica’, realizado pela CBIC, em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi Nacional).
Os empresários da Construção Civil também estão com expectativas positivas para o nível de atividades do setor. Entre os fatores apontados estão a queda da taxa de juros (apesar do patamar ainda elevado), as boas projeções para as novas medidas do programa Minha Casa, Minha Vida e a expectativa em torno do Programa de Aceleração do Crescimento, assim como o incremento da projeção da economia brasileira. Os dados fazem parte da Sondagem Indústria da Construção, cujos resultados de julho foram divulgados em primeira mão na coletiva em coletiva (29/07). Confira.
Maior número de vagas geradas no setor em 12 anos
Em sintonia com o momento do mercado de trabalho, a Indústria da Construção criou 159.203 novos postos de trabalho com carteira assinada nos primeiros cinco meses de 2024, segundo dados do Ministério do Trabalho. Foi o melhor resultado nos últimos 12 anos para o período de 1º de janeiro a 31 de maio. O resultado foi positivo em cada um dos segmentos da construção:
Apesar de responder por 6,24% do total de trabalhadores com carteira assinada no Brasil, a Indústria da Construção foi responsável por 14,62% do total dos novos empregos formais gerados nos primeiros cinco meses do ano.
Além disso, o salário médio de admissão de novos trabalhadores da Construção foi R$ 2.290,41 em maio de 2024, foi superior à remuneração média geral de todas as atividades – R$ 2.132,64 – e um dos três mais elevados na comparação com os demais setores da economia.
Do total de 159.203 novos empregos criados pela Construção Civil no período de janeiro a maio de 2024, 45,09% são de jovens com 18 a 29 anos.
“Ao contabilizarmos os trabalhadores de 18 a 24, esse quantitativo é quase a metade do total de novas vagas geradas na construção civil, ou seja, até mesmo os mais jovens estão acreditando no setor da construção para iniciar aí o seu lado profissional, a sua carreira profissional e isso é muito importante”, acrescentou Ieda Vasconcelos.
Esse crescimento do número de vagas está bem espalhado Brasil afora. Apenas dois estados (Rondônia e Piauí) apresentaram resultados negativos no mercado de trabalho do setor no período. Os cinco maiores geradores de novos empregos na Construção Civil nesse intervalo foram os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Goiás.
Depois de 10 anos, a Construção Civil se aproxima da marca de 3 milhões de trabalhadores formais empregados. Em maio de 2024, o setor chegou a 2,907 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Esse número representa uma alta de 6,12% em relação ao mesmo mês do ano 2023 (2,739 milhões).
“A construção é um setor que que emprega rápido, emprega com salário inicial muito interessante e mantém esse emprego por muito tempo, porque as obras são de médio e longo prazo, e tem uma perspectiva de longevidade, tanto em habitação quanto em infraestrutura. Quem opta por essa carreira pode ir muito longe, pode trabalhar durante muitos anos, se especializar, fazer realmente um projeto de vida trabalhando aí na construção”, destacou Renato Correia.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) devem ser atualizados nos próximos dias pelo Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) e a CBIC poderá concluir a análise do 1º semestre. Há uma forte expectativa de que o setor ultrapasse os 3 milhões de empregados formais este ano, alcançando os patamares de 2013 e 2014. “Nós estamos no patamar de quase 3 milhões de trabalhadores. A última vez que tivemos esse número foi em setembro de 2014 e se nós continuarmos com esse desempenho positivo durante este ano, nós podemos aí chegar a atingir essa faixa novamente”, acrescentou Ieda.
Custo da Construção mantém patamar elevado
A Construção Civil permanece com os custos pressionados desde a pandemia de Covid-19. De janeiro de 2020 até junho 2024, o Índice Nacional da Construção Civil, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (INCC/FGV) aumentou 44,02%, enquanto a inflação oficial do País cresceu 30,47%. Somente o custo com material apresentou incremento de 60,28%. Ou seja, o setor enfrenta um patamar alto de custos em insumos e mão de obra, comprimindo margens de ganho na atividade há anos.
Esse aumento dos custos da Construção Civil acima da inflação se reflete também desde a entrada em vigor do Plano Real, há 30 anos. Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE) aumentou 582,91% no período, o INCC/FGV subiu 960,63% no período, ou 64,79% de altas de custos acima da inflação ao longo de três décadas. “É um número que chama realmente bastante atenção. Tivemos uma elevação muito grande dos custos durante a pandemia – também em outras indústrias – e agora houve uma aceleração, mas esperamos que seja algo realmente temporário. Esse número acumulado dos 30 anos realmente chama bastante atenção, pois a pressão é muito grande sobre os custos. É um desafio bastante grande”, comentou Marcelo Azevedo.
Financiamento via FGTS cresce mais que SBPE e contrata mais usados
O financiamento para obras de construção civil – em especial de habitação – depende fortemente do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e do FGTS. No monitoramento da movimentação dessas duas fontes de recursos, a CBIC verificou que o SBPE teve dois meses de captação líquida positiva por dois meses consecutivos, em maio e junho, o que não acontecia há quase três anos – desde junho e julho de 2021.
Entretanto, houve perda de recursos na caderneta de poupança: a captação líquida continuou registrando resultados negativos no 1º semestre deste ano. A principal razão é que os juros altos continuam prejudicando o rendimento da poupança e, por consequência, sua atratividade.
Ainda assim, os financiamentos com recursos do SBPE alcançaram R$ 82,127 bilhões no semestre, ou seja, alta de 7,04% em relação a igual período do ano 2023 (R$ 76,728).
Já os financiamentos imobiliários com recursos do FGTS totalizaram R$ 67,202 bilhões nos primeiros seis meses do ano – uma alta de 75,31% em relação a igual período do ano anterior (R$ 38,334 bilhões). Apesar de ainda menor em volume, o financiamento imobiliário com recursos do FGTS apresentou crescimento percentual superior ao SBPE.
O número de unidades financiadas com recursos do FGTS também superou, de janeiro a junho de 2024, o do SBPE, que apresentou retração de 5,11%, ao passar de 261.092, nos primeiros seis meses de 2023, para 247.740 em iguais meses de 2024. Com recursos do FGTS, o número de unidades financiadas foi 40,95% maior, passando de 220.459 de janeiro a junho de 23 para 310.729 no período equivalente de 2024.
O financiamento imobiliário, com recursos do FGTS, para imóveis novos alcançou, no 1º semestre de 2024, R$ 50,764 bilhões, o que correspondeu a uma alta de 67,35% em relação a iguais meses de 2023 (R$ 30.334 bilhões).
Já o número de imóveis usados financiados usados cresceu 109,75%, ao passar de R$ 7,837 bilhões nos primeiros seis meses de 2023 para R$ 16,438 bilhões em iguais meses de 2024.
Importante ressaltar que, em 2022, do valor total financiado no 1º semestre (R$ 25,420 bilhões), 92,66% ou seja, R$ 23,553 bilhões, corresponderam a imóveis novos enquanto os imóveis usados representavam 7,34 % (R$ 1,867 bilhão).
Em 2024, do valor total financiado no 1º semestre (R$ 67,202 bilhões), 75,54% foram destinados a imóveis novos (R$ 50,764 bilhões) e 24,46% (R$ 16,438 bilhões) foram de imóveis usados.
Em números absolutos, o financiamento imobiliário para imóveis novos totalizou, no 1º semestre de 2024, 211.499 unidades, o que correspondeu a uma alta de 27,92% em relação a igual período de 2023 (165.340 unidades).
Já o número de imóveis usados financiados cresceu 83,02% ao passar de 54.217 de janeiro a junho de 2023, para 99.230 nos primeiros seus meses de 2024.
A CBIC ressalta que, em 2022, do número total de unidades financiadas no 1º semestre, de 172.082, 154.813 unidades corresponderam a imóveis novos, ou 89,96%, enquanto os imóveis usados representavam 10,04 % (17.269 unidades). Em 2024, do total de 310.729 unidades financiadas no 1º semestre, 68,07% foram imóveis novos (211.499) e 31,93% (99.230) foram de imóveis usados.
“Esse é um ponto que a gente tem comentado ao longo do ano. O FGTS deve ser aplicado majoritariamente nos imóveis novos pela geração de emprego que promovem e pelo desembolso mais gradual que se faz durante a produção dos empreendimentos. Pelo contrário, à medida em que você pega um recurso do FGTS e financia o imóvel usado, você tem um saque imediato, porque o imóvel já está pronto, e você tem uma geração de emprego menor, quase ínfima, que vai alimentar menos o FGTS do que um novo. Então, a gente tem pedido para que seja revista essa métrica, para que a gente possa gerar mais emprego e ter um FGTS mais sustentável”, lembrou Correia.
Fonte: CBIC
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